Meios
de contraste
Os
meios de contraste radiológicos são compostos introduzidos no organismo por
diferentes vias, que permitem aumentar a definição das imagens radiográficas,
graças ao aumento de contraste provocado por eles, possibilitando assim, a
obtenção de imagens de alta definição e, com isso, maior precisão em exames de
diagnóstico por imagem. A utilização de compostos com a finalidade de melhorar
a qualidade das imagens radiológicas é bastante antiga, cerca de mais de meio
século.
Desde então, reações
adversas resultantes da introdução de uma substância estranha ao corpo humano,
administrada via oral ou intravenosa, têm sido relatadas, uma vez que nem
sempre estas substâncias são inofensivas e algumas vezes podem alterar a
circulação sanguínea causando reações inesperadas. Partindo deste princípio,
diversas precauções devem ser tomadas tanto com os pacientes, como no preparo e
armazenamento dos meios de contraste.
Meios
de contraste iodado
Os
meios de contraste iodados são substancias radiodensas, hidrossolúveis, que
comumente administra por via oral e/ou endovenosa, são capazes de melhorar a
definição das imagens obtidas em exames radiológicos. O agente de “contraste
ideal” não deve produzir nenhum tipo de reação adversa, mas, infelizmente, uma
substancia assim ainda não existe. Por esse motivo, é fundamental que os
médicos estejam atentos quanto à indicação desses agentes, que saibam optar
entre os meios disponíveis no sentido de reduzir o risco de reações adversas e,
se essas ocorrerem, que estejam aptos a minimizar seus efeitos colaterais.
Todos
os meios de contraste iodados usados atualmente são derivados do ácido
triiodobenzoico. São classificados com base nas suas características
físico-químicas, incluindo sua estrutura química, osmolalidade, viscosidade,
quantidade de átomos de iodo na estrutura, propriedades biológicas, capacidade
de ionização em solução (no sangue), hidrossolúvel, lipofilia e toxicidade.
A densidade corresponde ao número de
átomos de iodo por mililitro de solução (g/ml). Quando a densidade está alta,
isto é, contêm átomos com números atômicos mais elevados e aumentam a absorção
dos raios X no corpo, não permitindo a sua transmissão. Este tipo de contraste
é chamado, portanto, de positivo ou radiopaco.
A osmolalidade da substância é uma função
definida pelo número de partículas de uma solução, independente de sua carga
elétrica ou massa, por unidade de volume. É expressa em miliosmol por
quilograma de água (mOsm/kg), representa o poder osmótico que a solução exerce
sobre as moléculas de água e geralmente é influenciada pela concentração, peso
molecular, efeitos de associação/dissociação e hidratação de substância química
utilizada.
A viscosidade da substância é a medida da
resistência ao fluxo da solução e é expressa em milipascal por segundo (mPa/s).
É aumentada em baixas temperaturas e altas concentrações. Quanto maior a
viscosidade, menor será a velocidade de injeção e maior será a dificuldade da
substância para se misturar aos fluidos corporais. O aquecimento do contraste à
temperatura corporal, além de reduzir sua viscosidade, facilita a injeção,
promovendo conforto ao paciente e melhor tolerabilidade à substância radiopaca.
Alguns cuidados no armazenamento e assepsia
dos meios de contraste: são imprescindíveis, incluindo armazená-los ao
abrigo de luz, uma vez que são fotossensíveis, e distantes da incidência de
raios X, pela possibilidade da radiação ionizante causar a degradação das
moléculas, alterando assim a estrutura do meio de contraste e, com isso, suas
propriedades de contraste nas imagens radiológicas. Além disso, é importante
mantê-los na temperatura de 15 a 25ºC, uma vez que em baixas temperaturas pode
ocorrer à formação de cristais, verificar prazos de validade e não utilizar os
frascos e ampolas abertos por mais de 24 horas, devido ao risco de contaminação
por microrganismos.
Aspectos
gerais do contraste iodado
A estrutura básica dos meios de
contraste iodados é formada por um anel benzênico, ao qual foram agregados átomos
de iodo e grupamentos complementares, onde estão ácidos e substitutos
orgânicos, que influenciam diretamente na sua toxicidade e excreção.
Ácido
triiodobenzóico
Núcleo
aromático
COOH=ligação
salina ou amídica, solubilidade aquosa
I=componente
que produz contraste
R1 e
R2=redução da toxicidade e lipofilia
R2=via de
eliminação
Na molécula, o
grupo ácido (H+) é substituído por um cátion (Na+ ou meglumina), dando origem
aos meios de contraste ditos “iônicos”, ou por aminas portadoras de grupos hidroxila
(R = radical orgânico), denominando-se, nesse caso, “não iônicos”.
Os meios de contrastes iônicos são
meios de contraste que quando dissolvidos em água tem suas moléculas
dissociadas em partes carregadas eletricamente, chamadas íons. Os íons podem
ter carga positiva ou negativa. O de carga positiva é chamado de cátion e o de
carga negativa de chamado de ânion. Os meios de contraste não-iônicos, não
sofrem dissociação quando dissolvidos em água, portanto não formam íons.
Podem apresentar apenas 1 anel
benzênico, formando “monômeros”, ou têm 2 anéis benzênicos, denominando-se
“dímeros”. Tanto os
agentes iônicos quanto os não iônicos têm iodo. Todos os meios de contraste
iodados utilizados
regularmente são muito hidrofílicos, são de baixa lipossolubilidade, baixo peso
molecular e pouca afinidade de ligação com proteínas e receptores de membranas.
Distribuem-se no espaço extracelular, sem ação farmacológica significativa.
A partir
dessas características, podem ser agrupados em 4 classes:
Monômeros Iônicos:
Em
solução, dissociam-se em duas partículas: um ânion radiopaco e um cátion (sódio
ou meglumina) não radiopaco em solução, há, portanto, três átomos de iodo para
duas "partículas" (relação = 1,5), fazendo com que apresentem a maior
osmolalidade entre todos os meios de contraste, são isotônicos (capacidade de
apresentar a mesma osmolalidade dos fluidos corpóreos) a aproximadamente 70 mg
de iodo/ml.
Dímeros Iônicos:
Em
solução, dissociam-se em duas partículas: um ânion radiopaco (ioxaglato) e um
cátion (sódio ou meglumina) não radiopaco em
solução, liberam, assim, seis átomos de iodo para duas "partículas"
(relação = 3); dímeros monoácidos iônicos têm aproximadamente a mesma osmolalidade
dos monômeros não-iônicos; são isotônicos a aproximadamente 150mg de iodo/ml.
Monômeros não-iônicos:
Não
se dissociam em solução, fornecem três átomos de iodo para uma
"partícula" (relação = 3); são isotônicos a aproximadamente 150 mg de
iodo/ml.
Dímeros não-iônicos:
Não
se dissociam em solução, fornecem seis átomos de iodo para apenas uma
"partícula" (relação = 6), apresentando a menor osmolalidade dentre
os meios de contraste, são isotônicos a aproximadamente 300 mg/ml, apresentam,
no entanto, o maior peso molecular, o que é responsável pela sua grande
viscosidade.
Condições que
influenciam na qualidade da imagem:
1. Via de administração: determina,
em parte, a quantidade de substância que chegará ao órgão estudado;
2. Dose de contraste;
3. Velocidade de injeção;
4. Calibre do cateter: em função da
viscosidade da solução utilizada;
5. Temperatura da substância:
principalmente no uso de contrastes não iônicos (interfere na sua viscosidade);
6. Retardo e tempo de exposição:
maximizar o estudo da fase arterial, menor em outras.
Decisões antes de
injetar o contraste
Apesar de todos os esforços, é
impossível prever que pacientes apresentarão reações adversas graves aos meios
de contraste iodados. Assim, todos os pacientes devem, inicialmente, ser
considerados de risco.
Antes da administração de um meio de
contraste, alguns pontos devem ser analisados.
1. Identificar os fatores de risco e benefício
potencial de seu uso;
2. Avaliar as alternativas de métodos de imagem que
possam oferecer o mesmo diagnóstico ou ainda sejam superiores;
3. Ser preciso na indicação do meio de contraste;
4. Estabelecer estratégias e procedimentos de
informação ao paciente;
5. Determinar previamente uma política no caso de
complicações.
Anamnese
Os efeitos colaterais ocorrem em
muitos pacientes como um resultado previsto ao meio de contraste iodado
injetado. Dois efeitos colaterais comuns após a injeção intravenosa são calor
temporário e gosto metálico na boca.
Tanto o primeiro, particularmente na
face, quanto o segundo geralmente cessam logo. Por isso, que ao fazermos a
anamnese, devemos alertar o paciente para os possíveis efeitos após a injeção
do meio de contraste, explicando cuidadosamente os procedimentos antes, durante
e após o exame, ajudando a reduzir a ansiedade do mesmo.
Uma anamnese cuidadosa pode servir para alertar a equipe médica para uma possível reação. Pacientes com uma história de alergia possuem maior tendência a apresentarem reações adversas ao meio de contraste do que aqueles que não são alérgicos.
Além do questionário respondido
previamente pelo paciente, o técnico em radiologia deve fazer estas perguntas
antes de iniciar o exame:
- Você tem
algum tipo de alergia?
- Você
apresenta asma brônquica?
- É
alérgico a alguma drogas ou medicamentos?
- É
alérgico a iodo?
- Você tem
renite alérgica?
- Você tem
alergia a alimentos como camarão, peixe ou outros frutos do mar?
- Você tem
alergia de pele (urticária)?
- Já foi
submetido a exame radiológico que exigisse uma administração de meios de
contraste em veia ou artéria?
Uma resposta
positiva a qualquer uma dessas perguntas nos previne para uma maior
possibilidade de reação.
REAÇÕES ADVERSAS
Mesmo após o desenvolvimento de melhorias nos meios de
contraste, como a diminuição da sua osmolalidade, hipertoxicidade e o princípio
de contrastes não-iônicos, o percentual de reações adversas com o seu uso é em
torno de 4%, e de reações graves, da ordem de 0,1%. Os contrastes iônicos
apresentam maior incidência de reações adversas que os não-iônicos.
Os contrastes não-iônicos são menos tóxicos do que os
iônicos, provavelmente por sua menor osmolalidade, ausência de carga elétrica e
maior hidrofilicidade (afinidade do material por água), o que torna esses
compostos mais inertes do que os iônicos.
Os pacientes que já manifestaram reações alérgicas
prévias a meio de contraste iodado são os de maior risco para a recorrência das
mesmas, com uma chance cinco vezes maior. Lembrando que a exposição prévia a
contraste iodado não afasta a possibilidade de ocorrência de reações, inclusive
fatal, numa outra exposição.
REAÇÕES NÃO IDIOSSINCRÁTICAS
São também chamadas de reações quimiotóxicas, essas
reações são inevitáveis, com efeito direto em determinados órgãos ou sistemas,
dependentes da toxicidade da molécula de contraste e das suas propriedades
físico-químicas, sendo por isso dependentes da dose de contraste administrada.
O mecanismo de ação
vincula-se a alguns fenômenos: quantidade de cátions liberada pelo contraste,
expansão aguda do volume plasmático, vasodilatação generalizada por efeito na
musculatura lisa e lesão do endotélio vascular. Durante a infusão endovenosa do
contraste iodado, os pacientes geralmente refere-se uma sensação de “calor pelo
corpo”, e “gosto metálico na boca” e eventualmente náuseas, esses sintomas
desaparecem tão longo a infusão é encerrada, com o objetivo de tranquilizar o
paciente, ele deverá ser informado previamente á infusão do meio de contraste,
da possibilidade da ocorrência e da duração desses sintomas.
Existem ainda as
reações vaso vagais (sudorese, palidez cutânea, náusea, vômito e hipotensão com
bradicardia), tontura, convulsão, reações cardiovasculares como arritmias e
depressão miocárdica, hipovolemia, insuficiência renal, dor e desconforto no
local da injeção que pode evoluir para flebite e ainda extravasamento de
contraste. Podem ser subdivididas em:
Efeitos
tóxicos diretos
As reações devido à osmolaridade
ocorrem com mais frequência com o uso dos produtos de contrastes iodados (PCI)
hiperosmolares (monômeros iónicos), sendo menos frequentes nos PCI hipo ou
isosmolares. A osmolaridade do produto de
contraste em relação ao meio orgânico desencadeia uma deslocação de líquidos do
espaço intracelular para o espaço extracelular, originando desidratação celular
e um aumento na viscosidade do fluido intracelular, precipitando a disfunção
celular.
Maior razão de toxicidade
induzida por contrastes iodados refere sua capacidade de afetar a osmolaridade
plasmática. Seu mecanismo de ação está relacionado à expansão aguda do volume
plasmático, vasodilatação generalizada (efeito músculo liso), liberação de
histamina (basófilos e mastócitos) e lesão do endotélio vascular
(flebite/trombose). A estrutura molecular dos contrastes está associada a esse
efeito.
As
reações de quimiotoxicidade, inerente à molécula do contraste, originando
efeitos cardiovasculares, renais e neurológicos, surgindo mais frequentemente
em doentes debilitados e clinicamente instáveis. Portanto é a reação onde os íons se separam reagindo
com outras moléculas, onde são responsáveis pela a neurotoxicidade, depressão
miocárdica, alterações no ECG/arritmia, lesão tubular renal e lesão vascular.
O
mecanismo geral parece estar relacionado com a interação entre o contraste e
estruturas biológicas corporais. A quimiotoxicidade está associada a dose
dependente, afetando os parâmetros hemodinâmicos, aumentando ou diminuindo a
liberação de substâncias vasoativas. A desestabilização do equilíbrio entre
forças vasodilatadoras e vasoconstritivas possui gênese multifatorial.
Os
contrastes provocam a liberação de endotelina por células endoteliais. A
endotelina é um mediador local vasodilatador. A adenosina, um mediador local
vasoconstritor, é liberada pelos rins em resposta ao uso de contraste. O uso de
um antagonista de adenosina (teofilina) atenua a diminuição do fluxo sanguíneo
renal e da taxa de filtração glomerular em pacientes com função renal normal ou
previamente prejudicada.
- Toxicidade direta orgão-específica
Pele: sinais e sintomas no local da
aplicação, dor, inchaço, calor, eritema e pápulas;
Trato
Gastrointestinal:
náusea, vômito e diarreia;
SNC: cefaleia, confusão, vertigem,
tontura e convulsão;
Rins: redução do débito urinário e hipertensão;
Sistema respiratório: dispneia, broncoespasmo e hipóxia por apneia;
Sistema cardiovascular: Alteração cardíaca pode ser acompanhada por: dispneia, alteração do ECG, arritmia e assistolia. Podendo evoluir para: taquicardia ventricular, fibrilação
ventricular e PCR - parada cardiorrespiratória.
Os meios de contraste iodado não
penetram no sistema nervoso central quando a barreira hematoencefálica (BHE)
encontrar-se integra, porque têm alta hidrossolubilidade e baixa lipossolubilidade.
Jamais deverá ser introduzido contraste iônico no espaço aracnoide.
Cegueira cortical transitória é uma
complicação possivelmente associada aos efeitos diretos do contraste do lobo
occipital. Pacientes com doenças cerebrovasculares isquêmicas ou hemorrágicas
subaracnóidea também tem maior número de complicação que podem ser relacionadas
aos vasoespasmos, mas também a alteração da permeabilidade da BHE por maior
sensibilidade do contraste.
Lesões irreversíveis da medula
espinhal, após exames contrastados podem está relacionados a neurotoxicidade
direta desses agentes.
A
nefrotoxicidade é atribuída ao uso de meio de contraste quando ocorre piora
súbita da função renal após sua administração e não se encontra outra causa
para explicar esse fato. Geralmente, considera-se como nefrotoxicidade um
aumento de 20% a 50% nos níveis de creatinina. A patogenia da nefrotoxicidade
não é conhecida e ocorre com meios de contraste de alta ou baixa osmolaridade.
Algumas possibilidades são: alteração hemodinâmica, toxicidade tubular direta e
lesão celular tubular, causando obstrução dos túbulos. Mecanismos osmóticos e
tóxicos estão envolvidos.
Alguns
fatores que predispõem à nefrotoxicidade são: insuficiência renal preexistente
(creatinina sérica > 1,5 mg/dl), diabetes, desidratação, uso de diuréticos, mieloma
(neoplasia das células plasmáticas), hipertensão e hiperuricemia (nível alto de
ácido úrico no sangue).
A
repercussão clínica da agressão renal depende da função renal de base, da
existência de fatores de risco associados, do grau de hidratação e, talvez, da
dose e tipo de meio de contraste. A creatinina sérica começa a subir geralmente
24 horas após o exame, atinge o pico máximo em 96 horas (quatro dias) e retorna
ao estado inicial pré-exame em sete a dez dias.
Os
pacientes com função renal normal apresentam risco extremamente baixo de
desenvolver falência renal após exame com uso de meio de contraste. Para os
pacientes de maior risco (diabetes, IR e desidratados) devem iniciar hidratação
12 horas antes do exame e continuar por 12 horas (S.F. 0,9%; 100 ml/h).
Algumas situações especiais:
Nos
pacientes com insuficiência renal crônica - IRC em diálise a maior preocupação
é a sobrecarga hídrica, pois os meios de contraste são hiperosmolares. A
diálise remove as moléculas de contraste. Apenas se houver insuficiência
cardíaca ou se for utilizado grande volume de meio de contraste é que devemos nos
preocupar em dialisar o paciente imediatamente após o exame. Caso contrário,
deve manter-se a rotina de diálise. Para os pacientes que estão com IRC e em
diálise intermitente, recomenda-se utilizar exames de imagem que não dependam
da utilização de meios de contraste iodado para a sua realização.
Pacientes diabéticos em uso de
metformina representam um grupo especial, pois a metformina é excretada pelo
rim por filtração glomerular. A meia-vida é de três horas e aproximadamente 90%
da droga é eliminada em 24 horas. A injeção intravenosa de meio de contraste em
paciente em uso de metformina é preocupante. Portanto, recomenda-se que a
metformina seja suspensa antes, ou no momento do procedimento e seja
reintroduzida 48 horas após a injeção do contraste, desde que a função renal
esteja normal. Também é recomendável dosar a creatinina antes da reintrodução
da metformina nos pacientes que clinicamente apresentarem redução do volume
urinário.
Os meios de contraste podem
provocar aumento da atividade parassimpática, sobretudo vagal, no corpo. A
atividade vagal aumentada precipita bradicardia e vasodilatação periférica.
Existe a possibilidade de os meios de contrastes deprimirem diretamente o nodo
sinusal cardíaco. O resultado é uma hipotensão sistêmica com bradicardia. Os
meios de contraste podem causar arritmia ventricular, podendo precipitar
angina. As reações vaso vagais são acompanhadas de outras manifestações
autonômicas, incluindo náusea, vômito, diaforese, disfunção de esfíncter,
alteração do estado mental (sensação de medo, agitação e apreensão). Se não
tratadas, as reações cardiotoxicidade podem evoluir para o colapso
cardiovascular e a morte.
REAÇÕES
VASO VAGAIS
O
nervo vago, também chamado de nervo pneumogástrico, inerva diversos órgãos do
nosso corpo, como o coração, estômago, laringe, pulmão, esôfago, intestinos,
pele entre outros. É através do mesmo que o cérebro recebe as informações do
estado das nossas vísceras. O nervo vago também é responsável pelo controle de
algumas das funções destes órgãos como a produção de suor, a frequência
cardíaca, a pressão arterial, os movimentos dos intestinos, da musculatura, do
pescoço e da boca. Também carrega fibras
do sistema nervoso parassimpático (SNP) – desacelera o organismo e o estresse,
que de um modo simples pode ser descrito como um antagonista dos efeitos da
adrenalina no corpo, liberada pelo sistema nervoso simpático (SNS) – acelera o
organismo e estimula eventos de estresse. Por exemplo, o SNS aumenta a pressão,
acelera os batimentos cardíacos e nos deixa mais alerta, enquanto que o SNP,
através do nervo vago, reduz a pressão arterial e deixa o coração lento.
As
reações vasomotoras podem surgir como consequência das reações idiossincráticas
ou das não idiossincráticas, consistindo em reações vaso vagais ou reações com
colapso vasomotor com hipotensão grave, bradicardia e vasodilatação, sudorese,
ansiedade e perda da consciência, podendo ocorrer colapso cardiorrespiratório.
As reações vagais não estão diretamente ligadas com o meio de contraste
administrado, estão normalmente associadas à ansiedade ou à dor durante a
administração do mesmo (distensão visceral ou dor, pelo trauma da punção
cutânea).
Este
tipo de reação é uma condição de risco de vida. A introdução dos agentes de
contraste iodados estimula o nervo vago, que pode fazer com que a frequência
cardíaca caia e a pressão sanguínea diminua perigosamente. É necessária uma
resposta rápida e imediata da equipe médica.
Os
sintomas de uma reação vaso vagal incluem:
- Hipotensão (pressão sanguínea sistólica < 80mmHg);
- Bradicardia (< 50 batimentos/min);
- Ausência de pulso detectável.
Deve-se
declarar uma emergência médica imediata. Assegure-se de que o carrinho de
emergência esteja próximo e que os equipamentos de oxigênio e de aspiração
estejam disponíveis.
Tratamento
para as reações vaso vagal (hipotensão e bradicardia):
1. Administrar O2 de 6 a 10
litros /min (via máscara);
2. Monitorar sinais vitais;
3. Elevar membros inferiores a 60° ou
mais (preferencialmente) ou colocar o paciente em Trendelenburg;
4. Manter acesso venoso seguro e fazer a
administração intravenosa de grandes volumes de líquido (ringer lactado ou soro
fisiológico);
5. Administrar atropina 0,6-1mg IV
lentamente caso não haja resposta às 1° medidas terapêuticas;
6. Repetir atropina até uma dose total
de 0,04mg/kg (cerca de 2 a 3mg em adulto).
Quanto ao grau de severidade:
As reações adversas
classificam-se, quanto ao grau de severidade, em leves, moderadas ou graves.
Leves: São aquelas reações autolimitadas, que cedem
espontaneamente e não requerem terapêutica medicamentosa, sendo necessária
apenas observação.
Moderadas: Exigem tratamento farmacológico e observação
cuidadosa no serviço de radiologia, mas não requerem hospitalização.
Graves: Requerem suporte terapêutico de emergência e o
paciente é hospitalizado para acompanhamento.
Reações quanto
ao tempo decorrido após a administração do contraste:
- Agudas ou imediatas: Ocorrem no
período em que o paciente está em observação no serviço de radiologia e têm
início durante a injeção ou nos primeiros 5 a 20 minutos após a administração
do agente contrastante.
- Tardias:
Ocorre após o paciente deixar o serviço de radiologia, muitas vezes aparece de
30 a 60 minutos após a injeção do contraste iodado.
Equipamentos e materiais para situações de
emergência
Como uma reação
ao meio de contraste é possível e imprevisível, na sala de exames deve sempre
haver materiais e equipamentos em caso de situações emergenciais. Assim como:
Para avaliação e diagnóstico
-Cardioversor/desfibrilador
com marca-passo externo
-Monitor multiparâmetro
-Estetoscópio
-Aparelho de glicemia
-Gerador de marca-passo
-Oxímetro de pulso
Para controle de vias aéreas
-Conjunto de
laringoscópio e lâminas
-Cânulas orotraqueais
-Ambú e máscara facial
-Cilindro de oxigênio
-Umidificador
-Painel de gases com
válvulas
Para acesso e medicações
-Jelco, scalp, equipo,
torneirinha e extensor
-Soros (SF 0,9%, SG 5%,
RL)
-Seringas e agulhas
-Medicações (atropina,
adrenalina, amiodarona, bicarbonato de sódio, furosemida, cálcio, magnésio,
nitroglicerina, nitroprussiato de sódio, dobutamina, dopamina, noradrenalina,
dormonid, fentanil, diazepan, etc.).
Medidas
profiláticas
Na
área de diagnósticos por imagem, a Enfermagem atua em conjunto com a equipe
multidisciplinar, realizando atividades como orientação e preparo do paciente
para o procedimento, conferência e manutenção do material necessário para a
execução e sucesso do exame, armazenamento, preparo e administração de
contrastes, bem como acompanhamento do paciente antes, durante e após a realização
do exame, entre outras.
O
conhecimento da tecnologia, dos meios de contraste e seus efeitos, bem como a
competência para agir em situações de emergência são fundamentais para o
sucesso na realização de exames por imagem. Embora as reações adversas sejam,
em muitos casos, inevitáveis ou imprevisíveis, algumas medidas específicas podem
impedir/reduzir a sua ocorrência ou sua gravidade, portanto, recomenda-se
atenção aos seguintes aspectos:
Escolha
do tipo de contraste: Apesar do contraste iodado não iônico
ser mais seguro, convém que o serviço de radiologia adote uma política de uso
seletivo do contraste não iônico para os casos de risco. Ainda que a decisão do
tipo de contraste a ser utilizado não seja atribuição da Enfermagem, cabe a ela
fornecer ao profissional responsável pela realização do exame elementos que
possam contribuir na sua tomada de decisão.
Averiguação
acerca das drogas utilizadas pelo paciente: É possível que
beta-bloqueadores mascarem a ocorrência de arritmias cardíacas, evitando seu
pronto atendimento. Drogas como a Metformina interagem diretamente com a
eliminação do contraste, havendo risco de desencadear insuficiência renal,
portanto, recomenda-se interromper seu uso antes do exame e só retomá-lo quando
a função renal for avaliada pelo médico responsável e considerada normal.
Medicação
profilática: Em pacientes de risco, a administração
de medicação prévia como corticosteroides, anti-histamínicos ou cimetidina
também é medida preventiva usada nos serviços que dispõem de protocolo para sua
utilização. É preciso atentar para o fato de que pacientes que não têm fatores
de risco não são beneficiados pelo uso deste esquema profilático.
Avaliação do estado
geral do paciente: Alguns quadros clínicos, em que o paciente
apresenta agitação ou confusão mental, prejudicam a realização do exame. Nestas
condições, além de não colaborar no posicionamento sugerido, é difícil mantê-lo
imóvel quando a situação requer. Este fato influencia na obtenção de
resultados, especialmente no que tange à qualidade da imagem e, muitas vezes,
culmina na necessidade de interromper o exame. Além disso, estas condições
comprometem a habilidade de comunicação do paciente, dificultando também a
precoce identificação de reações adversas. Uma medida de segurança consiste em
atentar para estas intercorrências e solicitar avaliação médica com vistas à
sedação do paciente/cliente, acompanhamento da equipe assistente ou considerar
a realização do estudo em outro momento.
Preparo
quanto à hidratação e jejum: É importante manter a
hidratação nas 12 horas que antecedem o exame e 2 a 24 horas após o mesmo para
evitar a ação nefrotóxica do contraste. Ressalva-se que a via de administração
depende do contexto/situação em que se realiza o exame. Promover o controle
hídrico do paciente internado após o exame para acompanhamento de sua função
renal é uma medida de precaução. Quanto ao jejum, prévio ao exame, o consenso é
o de evitar ou diminuir a ocorrência de vômitos, diminuindo também o
desconforto e o risco de aspiração.
Atenção
ao aspecto emocional: O medo do desconhecido, o instrumental
técnico e o próprio ambiente, além de fatores estritamente pessoais, concorrem
para elevar o nível de ansiedade. Esta situação, gerando desconforto, torna o paciente
mais vulnerável e, consequentemente, menos colaborativo e, assim, possivelmente
até o exame deixe de alcançar o patamar de eficácia desejada. Por isso, é fundamental
que a equipe multidisciplinar esteja atenta e disponha da devida
instrumentalização para acolher, fornecer esclarecimentos e tranquilizar o
paciente/cliente, reconhecendo as peculiaridades que cada caso exige.
Intervalo
entre um exame e outro: São necessárias pelo menos 48
horas entre os exames contrastados para promover adequada recuperação da função
renal, sendo recomendado um intervalo de 5 dias entre uma injeção de contraste
iodado e outra.
Temperatura
da substância de contraste: Aquecer o contraste à temperatura
corporal reduz sua viscosidade, aumenta sua solubilidade e torna o contraste
mais bem tolerado pelo paciente.
Dose
da substância de contraste: Quanto menor o volume de contraste
necessário para o exame, menor será o risco de reações dose-dependentes. O profissional
determina o volume a ser injetado, considera o tipo de estudo que se pretende e
as condições do paciente. Exames com foco no fígado, pâncreas e
angiotomografias exigem injeção de grandes volumes de contraste, de maneira
contínua e uniforme, com alto fluxo (3 a 5 ml/seg). A necessidade de grandes
doses justifica o uso de agente não iônico. O conhecimento do peso exato do
paciente é uma medida que contribui para determinar a quantidade ideal de
contraste.
Velocidade
da inoculação endovenosa do contraste: Alguns sintomas como
náuseas e vômitos são mais frequentes quando o contraste é administrado com
maior velocidade, apesar de alguns estudos sugerirem que a velocidade de infusão
não afeta a frequência destas ocorrências. Injeções mais lentas de contraste
diminuem a incidência de cefaleia e a sensação de gosto metálico na boca.
Fluxos de 3 ml/seg ou mais aumentam a probabilidade do paciente experimentar
maior sensação de calor.
Observação
do paciente durante e após o exame: A maioria das reações
ocorre até 20 minutos após a administração do contraste, por isso, a observação
criteriosa do paciente pela equipe de multidisciplinar durante este período é importante
para identificar a ocorrência de alguma reação e proceder ao atendimento o mais
prontamente possível.
Recursos
humanos e materiais adequados: Toda a equipe deve
estar treinada e apta para o reconhecimento e pronto atendimento das reações
adversas e o setor deve estar devidamente equipado para seu atendimento.
Registros:
O registro em prontuário da evolução do paciente durante o procedimento,
incluindo tipo de exame, tipo de contraste administrado e ocorrência ou não de
eventos adversos auxilia significativamente na tomada de decisão em exames
futuros.
Orientação
do paciente/cliente e Consentimento Informado:
Além de orientações protocolares, pertinentes a exames contrastados, é importante
informar ao paciente sobre as possíveis reações adversas. Na iminência de
riscos com a realização do exame, deve haver um consentimento expresso do
paciente e/ou responsável para submeter-se a esta modalidade diagnóstica.
Referências
bibliográficas
ASSAD, Alexandra Rezende; et al. Anestesia para Estudos Contrastados.
Disponível em:
<http://www.saerj.org.br/download/livro%202007/06_2007.pdf>. Acesso em:
28 out. 2013.
DALL’AGNOL, Clarice Maria. et al. Reações adversas imediatas ao contraste
iodado intravenoso em tomografia computadorizada. Brasília-DF: Revista
Latino-americana de Enfermagem, 2007. Disponível em:
<http://www.scielo.br/pdf/rlae/v15n1/pt_v15n1a12.pdf> Acesso em: 25 out.
2013.
GLUECK, Flávio; MAGALHÂES, Fabíola Cristina
Rodrigues. O Essencial Sobre Tomografia
Computadorizada. Disponível em:
<http://www.slideshare.net/amandaazevedo14/apostila-tomografia>. Acesso
em: 03 nov. 2013.
GRACITELLI, Mauro E. C. et al. Reações alérgicas ou pseudo-alérgicas aos meios de contraste iodados? São
Paulo-SP: Revista Brasileira de Alergia
e Imunopatologia, 2001. Disponível em: <http://www.asbai.org.br/revistas/Vol244/reacoes.htm> Acesso em: 20 out. 2013.
PINHEIRO, Pedro. Desmaio, síncope e reflexo vagal. Rio de Janeiro-RJ: 2013.
Disponível em: <http://www.mdsaude.com/2009/05/desmaio-sincope.html>.
Acesso em: 03 nov. 2013.
RODRIGUES, Liliana Fernandes. Otimização do volume de meio de contraste intravenoso administrado em TC
abdominal: cálculo baseado na massa magra. Faculdades de Ciências da
Universidade do Porto, Porto, 2011. Disponível em:
<http://repositorio-aberto.up.pt/bitstream/10216/62279/3/TeseMIM4LFR.pdf>.
Acesso em: 03 nov. 2013.
SANTOS, Alexandra Pintassilgo; et al. Produtos de contraste iodados. Acta
Medica Portuguesa, São Paulo-SP: 2008. Disponível em:
<http://actamedicaportuguesa.com/revista/index.php/amp/article/download/1697/1277>.
Acesso em: 29 out. 2013.
SILVA, Penildon. Farmacologia. Rio de Janeiro-RJ: 2010. 8° ed. Editora Guanabara
Koogan.
WERLANG, Henrique Z.;
et al. Manual do residente de
radiologia. Rio de Janeiro-RJ: 2009. 2° ed. Pág. 75-82. Editora Guanabara
Koogan.